segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Brincando no mangue



Em uma manhã de sábado fui até o sitio de Seu Moiséis comprar camarão.
Seu Moiséis é filho de pescador e responsável por uma grande área de mangue na ilha de Colares próximo a comunidade do Ariri. Possui uma família grande de dez pessoas, todos envolvidos nas atividades que garantem o dia a dia.
Nunca havia percebido a grandeza daquele lugar como nessa manhã, pois, sempre me detive a ficar no retiro onde ele e sua esposa, Dona Jack produze a farinha com côco mais gostosa da região.




Dona Jack, é uma dona de casa e artesã de mão cheia, sempre fazendo atividades relacionadas ao extrativismo vegetal como o óleo de andiroba e cupaiba que ela vende para os moradores da ilha e turistas.
Seu Moiséis também é carpinteiro naval, taifeiro, artesão e pescador, mestre que educou os filhos com o conhecimento popular mais rico que se pode obter por essas bandas.
Seu Moiséis fabrica matapi (estrutura feita de tala de guarumã utilizada para pegar camarão) de garrafas pet coletadas na cidade (Colares), ensinando seus filhos a respeiratarem a natureza reutilizando materiais recicláveis.





Ele delegou seu filho, Lucas, para nos guiar por entre o mangue e conhecer as maravilhas daquelas terras e águas.
Lucas, é um garoto esperto de onze anos conhecedor da área e de todas as histórias.
A cada árvore que ele conhecia, nos informava o nome, e falava sua utilidade e aplicação medicinal. Nos apresentou o breu branco (resina de uma árvore utilizada para fazer perfume e defumação para espantar mosquitos). Junto com seu irmão, o menino Messias, nos levaram pelos caminhos criados por seus avós e nos apresentaram a pequena "cachoeira" dentro do mangue onde brinca com seus irmãos.

















Assim que chegamos a praia, logo nos encantamos com a paisagem, respiramos um ar puro sentindo o vento gostoso vindo do litoral.
Iniciamos um processo de transformação, decidimos batizar nosso amigo o Profº João Carlos com a famosa lama negra tão falada na região, devido seu poder de cura e senbilização.



Oficinas com tala de guarumâ


Oficinas com tala de guarumâ

Nossas atividades estão sendo desenvolvidas dentro do espaço físico da Escola Magalhães Barata, ou melhor, no quintal da escola que por sinal é o melhor lugar para as atividades.
No mês de junho, já próximo às férias, os alunos fazem diversas brinquedos, entre eles surgem as tradicionais pipas(papagaios, rabiolas...) feitas de tala de guarumâ.
Esta tala é tirada da casca de um arbusto encontrado na região, serve para a criação de vários produtos típicos da região norte, sendo utilizado pelos indígenas para fazer o tipiti (instrumento utilizado para pegar camarão), matapi (recipiente apropriado para tirar o tucupi do tacacá) e peneiras.

A atividade teve inicio com uma proposta de criarmos um boi para a semana no folclore pra ser apresentado agora em agosto. Todos se mostraram dispostos para experienciar, a criar de acordo com o combinado. Assim que iniciamos as atividades, as primeiras dificuldades se apresentaram, mas logo os próprios alunos passaram a se ajudar.
Fui percebendo que o trabalho em conjunto fora do ambiente convencional proporcionava mas dinâmica a proposta, pois, todos tinham a liberdade de fazer onde queriam, do tamanho que desejavam, respeitando é claro as limitações da matéria.
Dentro desta mesma atividade, foram feitas outros objetos, como é o caso dos "batedores de mandioca" feito por Moiseis com miriti outra matéria prima muito utilizada na região para a construção de brinquedos pela população ribeirinha.